segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Cultura crioula

Estou lendo (antes tarde do que nunca) "O Povo Brasileiro", de Darcy Ribeiro. Chamou-me a atenção, e certa altura, um trecho que resolvi compartilhar aqui, recomendando que leiam o livro todo, importantíssimo para compreender a essência da formação desta nação brazuca.

(...) O fundamental, porém, é que milagrosamente o povo, sobretudo o negro-massa, continua tendo erupções de criatividade. Esse é o caso do culto a Iemanjá, que em poucos anos transformou-se completamente. Essa entidade negra, que se cultuava a 2 de fevereiro na Bahia e a 8 de março em São Paulo, foi arrastada pelos negros do Rio de Janeiro para 31 de dezembro. Com isso aposentamos o velho e ridículo Papai Noel, barbado, comendo frutas européias secas, arrastado num carro puxado por veados. Em seu lugar, surge, depois da Grécia, a primeira santa que fode. A Iemanjá não se vai pedir a cura do câncer ou da AIDS, pede-se um amante carinhoso e que o marido não bata tanto”. (RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. São Paulo: Companhia de Bolso, 2006, p. 241)


Aos que porventura se escandalizem com essas palavras, recomendo que continuem suas leituras habituais, certamente mais mornas e confortáveis.


Abraços.