sexta-feira, 28 de março de 2008

Garçom amigo

“Bom é ser amigo do garçom”.

Faz muitos anos desde que ouvi essa afirmação pela primeira vez. Ao longo do tempo já a escutei em vários lugares e provavelmente esteja incorporada ao repertório da “sabedoria popular”.

Mas por que haveria de ser melhor ficar amigo do garçom? Não seria mais interessante ser amigo do dono do restaurante, bar, boteco etc? Perguntei isso certa vez a um amigo de boemia e ele me esclareceu:

- Ser amigo do dono só é vantagem pra fazer bonito pros seus amigos, pra dizer que tem status. Por outro lado, sendo amigo do garçom você tem aceso a privilégios que nem mesmo o dono poderia proporcionar, ao menos não de livre e espontânea vontade. Por exemplo, lá pelas tantas você pode ganhar uma porção extra de amendoim sem esperar, simplesmente porque o bar está meio vazio e o garçom, que é teu amigo, resolve fazer um agrado; A cerveja virá sempre estupidamente gelada para a sua mesa, já que o amigo garçom tem por hábito essa preocupação para com os mais chegados; Se você pedir um filé com fritas, ele provavelmente dará um toque no cozinheiro para caprichar na carne e na quantidade de fritas, sem contar que as batatas virão crocantes e a carne macia, o que é imprescindível.

Gostaria de reforçar aqui que, tão importante quanto ser amigo do garçom, é ser amigo do cozinheiro. Se não puder ser amigo do cozinheiro, pelo menos não crie inimizade com ele. Poucas pessoas neste mundo conseguem imaginar realmente o que pode acontecer ao seu pedido se você tiver irritado o cozinheiro. Nem é bom pensar.

Continuando com as vantagens da amizade com o garçom. Se você estiver sentado em uma mesa num lugar ruim do estabelecimento, seu amigo garçom certamente virá lhe avisar quando vagar uma num local que ele sabe que você gosta de ficar. Se por acaso o dono do bar é daqueles que “batiza” o uísque, ou coloca vodka vagabunda na garrafa da importada russa, o garçom vai lhe avisar do golpe a tempo, geralmente no pé do ouvido, como no “Poderoso Chefão”:

- Olha, não pede o Chivas dezoito anos não, que o Haroldo colocou Natu Nobilis no lugar. Pede o doze anos, que ainda é original.

Um amigo garçom é também uma fonte valiosíssima de informações sobre os outros freqüentadores, e também sobre o movimento daquele dia.

- João, você sabe se o Bruno e a Martinha passaram por aqui hoje?

- Vieram sim, ficaram cerca de uma hora e foram embora.

- E o Milton, deu as caras?

- Hoje ainda não. Olha, chegou há uns dez minutos aquela mulher que tava com você sábado passado aqui.

- A Silvinha?

- Não sei o nome, ela tem cabelo preto na altura dos ombros e usa óculos?

- Essa mesma. Valeu pelo aviso, João! Vou dar uma volta por aí e venho mais tarde, não quero topar com ela hoje. Até mais tarde.

- Até.

Sim, meus amigos, bom é ser amigo do pessoal que sabe o que acontece no circuito “underground”, nos bastidores, junto às “massas”, como dizia um amigo meu. O dono não costuma dar atenção a esses detalhes, está muito mais preocupado com o lucro e com o movimento geral da casa. Não que ele esteja errado, mas infelizmente acaba perdendo muita coisa legal e até muita coisa ilegal que acontece bem debaixo das barbas dele.

O que eu posso dizer para finalizar é o seguinte: se você quiser posar de importante, seja amigo do dono. Se quiser desfrutar dos privilégios da noite, seja amigo do garçom.

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