terça-feira, 25 de março de 2008

Os Biscateiros


Biscateiro, quebra-galho, pau-pra-toda- obra. Muitos termos, mas, na essência, um significado: aquele que vive de pequenos trabalhos, de pequenos ganhos. Definições mais completas no dicionário, por favor.

Acredito que todos nós já conhecemos algum desses ajudantes gerais de rua, que fazem todo ou quase todo tipo de serviço por uma pequena quantia em dinheiro. Confesso que enquanto morava no interior de São Paulo eu conhecia poucos, a maioria era “faquinha”, aquele pessoal que tira o mato das calçadas. Quando fui morar em Salvador conheci vários, muitos, dezenas deles. E comecei a reparar que, ao contrário de outras cidades pelas quais eu havia passado, fora da Bahia, havia mais biscateiros que mendigos/pedintes nas ruas. É como se lá em Salvador o “pessoal da rua” tivesse sacado que dá pra se virar melhor e ter uma imagem melhor perante a comunidade fazendo bicos do que pedindo esmola na cara dura.

Não dou esmola, pelo menos não se puder evitar. Em alguns casos, quando avalio que minha segurança pode depender da liberação ou não de algumas moedas, em um local que não conheço, prefiro sim perder uns centavos a me arriscar a perder muito mais logo adiante. Uma das características mais fortes do “povo da rua” é a comunicação boca a boca, sobretudo quando se trata de avisar que tem “turista” na área.

Parece-me que o forte dos biscateiros de Salvador é a lavagem de carros. Lavam na rua, na calçada, embaixo dos viadutos, em estacionamentos improvisados nos terrenos baldios. Há muitos lava-jato na capital baiana, talvez por isso esse paralelo entre os trabalhadores informais”.

Os guardadores de carros (flanelinhas) são tão numerosos quanto os lavadores, mas atuam de preferência em pontos mais rentáveis, como as imediações de shoppings, mercados, próximo ao porto e ao redor de restaurantes, boates e casas de eventos em geral.

Outro tipo de biscateiro bastante presente é o segurança eventual. Esse costuma ficar nas portas de salões de beleza, pequenos bares, bazares e mercadinhos, tomando conta das portas e mantendo a normalidade no comércio que lhe paga geralmente cinco ou dez reais por dia, dependendo do nível social da área e do tamanho do comércio.

Carregadores há em toda parte. Carregam de tudo para todos, o tempo todo. São especialmente úteis nos locais em que há ladeiras ou escadarias, algo extremamente comum em Salvador. Por um ou dois reais o morador se livra de carregar nas costas um botijão de gás cheio ou alguns móveis que estão chegando. Muitos carregadores usam carrinhos de mão, principalmente nas feiras, transportando as compras até a casa das donas de casa que, sozinhas, não conseguiriam levar tudo de uma só vez. Geralmente a corrida sai por um real, se for muito longe, dois. Já vi gente sendo transportada nesses carrinhos, mas isso é menos freqüente.

A relação de atividades dos biscateiros é enorme, portanto não vou alongar mais o texto, até porque se pode ver mais nas ruas do que nestas modestas linhas.

Os biscateiros fazem parte de nossa cultura há tanto tempo quanto os camelôs, acredito. Não sou sociólogo nem economista para debater sobre o certo ou errado dessas ocupações, mas, no meu entender, elas já estão arraigadas de tal forma no cotidiano que seria quase impossível imaginar a sociedade sem a presença dos biscateiros de plantão.

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