segunda-feira, 7 de abril de 2008

Difícil de entender

Venho observando há muitos anos, pequenos gestos que ocorrem no cotidiano das pessoas, e que aparentemente não fazem sentido embora se repitam em toda parte.

Você está na fila do supermercado, aquela dos caixas “rápidos”, pra até 20 volumes (já vi caixas até 10 e até 30 volumes, mas tudo bem) e o sujeito logo atrás insiste em ficar “colado” em você, geralmente te cutucando com aquela cestinha de compras, quando não com um carrinho, que pelo certo nem deveria estar naquela fila. Como se a proximidade de alguns centímetros fizesse a fila andar mais rápido ou o fizesse chegar primeiro ao caixa. E quando a criatura que está atrás coloca a maldita cestinha no chão e a fica empurrando com os pés, batendo nos seus calcanhares a todo o momento? Se toca Mané! Eu não faço isso, então no gosto que façam comigo. Dias atrás, depois de levar algumas batidas no calcanhar, virei-me para a mulher que estava atrás de mim e perguntei:

- A senhora está com tanta pressa assim de chegar ao caixa?

Felizmente a chata entendeu o motivo da pergunta e parou de bater a cesta em mim. Da mesma forma poderia não ter entendido e ter começado uma discussão, achando que eu é que estava sendo grosso com ela.

Outro gesto difícil de entender, mas não muito, é o apertar constante do botão do elevador, imaginando que ele virá mais rápido se você apertar o botão sem parar. Compreensível do ponto de vista psicológico, até porque a maioria das pessoas vive correndo no trabalho e nos compromissos, sem tempo para refletir na inutilidade de alguns gestos. Senhoras e senhores, entendam (ou tentem): o elevador registra uma chamada em cada andar, na ordem em que as chamadas foram feitas, portanto, só resta esperar que ele chegue até seu andar, sem estresse.

Um gesto, ou melhor, um vício irritante que muitos chatos têm é de ficar te cutucando enquanto conversam com você. Há variações, por exemplo, alguns cutucam o ombro enquanto outros ficam pegando em seu braço a cada cinco palavras que dizem. Parece um desespero para não perder a atenção do pobre ouvinte. Antigamente eu suportava melhor essas grosserias, mas de uns anos pra cá adotei métodos para evitar me estressar com chatos dessa espécie. Logo nas primeiras cutucadas ou pegadas, me afasto para fora do alcance das mãos do inconveniente. Se ele se reaproxima, mudo meu ângulo para ficar a uns noventa graus em relação ao falador, dificultando assim o toque direto. Se mesmo assim o “mala” não se toca, me manifesto e digo que não gosto que fiquem me “segurando” durante a conversa, ou algo parecido com isso. Geralmente é aí que o chato fica perplexo e se dá conta de sua inconveniência. Se reincidir, me despeço e vou embora.

Psiu! Não, não estou chamando sua atenção, mas com certeza alguém já lhe chamou dessa maneira. Detesto que me chamem na rua ou em qualquer lugar através de um “psiu”. Na rua já me disciplinei desde bem novo a ignorar qualquer “psiu” pronunciado perto de mim. Parto do princípio que aqueles que me conhecem sabem o meu nome, portanto, me chamariam pelo nome, naturalmente. Mas há aqueles que esquecem seu nome e tentam chamar sua atenção através do “psiu”. A esses digo que sinto muito, mas que da próxima vez tentem lembrar meu nome e usá-lo para me chamar. Há os que têm vício de usar o “psiu”, seja por preguiça de lembrar o nome da pessoa, seja por grosseria de achar que isso é bonito, seja por arrogância de achar que o outro não merece ser chamado pelo nome. Acontece muito em empresas e residências de ricos, onde os superiores e patrões acham que não precisam se dar ao trabalho de pronunciar o nome daquele que eles julgam estar abaixo deles na escala social.

Ó fracos de mente e pobres de espírito (no sentido pejorativo, é claro).

Ser ou fazer algo inconveniente não está ligado necessariamente à categoria social, econômica, à crença religiosa ou política, ou seja, não é restrito a um determinado grupo humano. Conheci e conheço pobres muito bem educados e ricos grossos e arrogantes. Já vi analfabetos que respeitam as regras de convivência perfeitamente, enquanto portadores de mestrado zombavam de sinalização de trânsito e avisos de “proibido fumar”.

Ah sim! Não posso concluir esta crônica sem lembrar dos idiotas inconvenientes e ignorantes que fumam em lugares nos quais não é permitido, como mercados, hospitais, elevadores, restaurantes e muitos outros, aliás, todos os outros. Já fui fumante por dezesseis anos e cometi algumas gafes nesse período, como fumar em algum lugar onde não era permitido, mas apenas porque não avia visto o aviso de proibido. Hoje e dia a marcação é cerrada com os fumantes, mas até poucos anos atrás essa fiscalização quase não existia, de modo que valia o bom senso e a educação do fumante para perceber onde podia e onde não podia acender o cigarro. Atualmente a pressão antitabagista é tão grande que em alguns países o único local ainda permitido para fumantes é a rua, e longe da maioria das pessoas.

Todas as vezes que vou a um mercado perto de casa vejo alguém fumando lá dentro. Várias vezes escutei pelo sistema de auto-falantes a advertência para que os clientes não fumassem no interior da loja, e citando a lei que define isso.

Mas aos arrogantes, ignorantes e grossos por natureza nada disso importa. Continuam em sua jornada patética por este mundo, a incomodar seus semelhantes e seus diferentes, com todo tipo de inconveniência que possam dispor.

Vade retro mala-sem-alça!

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