sexta-feira, 18 de abril de 2008

À Margem

Dias atrás encontrei um colega, o Sancho (não é do Quixote, mas tem pança também). Disse-me que precisava comprar um celular com câmera, mas os preços estavam “salgados” nas lojas que ele tinha visitado. Comentei com ele que faço questão de ter um celular do modelo mais básico possível, sem câmera, sem MP3, sem filmadora etc. Não que eu não quisesse ter um celular com tudo isso, mas a realidade das ruas nos chama ao bom senso e à praticidade. Paguei R$80,00 no meu aparelho e ainda tive a sorte de pegar um modelo bonito, preto com visor azul, leve e fininho.

Depois de alguns minutos, Sancho comentou que perto da casa dele tem um sujeito que vende aparelhos, hã, digamos, no mercado paralelo informal, sem nota e sem procedência. É, roubados mesmo. Cinqüenta reais cada um, com câmera e MP3. Meu colega se apressou em dizer que nem cogitava comprar tal mercadoria, pois na primeira blitz que a polícia fizesse na área e perguntassem ao “vendedor” para quem ele tinha passado os celulares, poderia sobrar bronca para ele também. Achei uma atitude sensata e honesta. Mas Sancho fez o comentário que derrubou o castelinho de cartas:

- Se ainda fosse lá para as bandas de Prazeres ou Cajueiro Seco, onde ninguém me conhece, vá lá. Podia até pensar em pegar um celular com câmera.

Ah bom, aí sim! E no mesmo instante lembrei do provérbio antigo: “o que os olhos não vêem, o coração não sente”.

Sancho passa tranquilamente por um cidadão honesto, cumpridor dos seus deveres, pagador dos seus impostos, respeitador de filas e de senhoras idosas. Mas tem uma parte dele, não sei se na cabeça, se na barriga, se na banda esquerda da bunda, que não resiste à tentação do ilícito, do proibido para os outros, do que é mais fácil. Aquele “jeitinho” que todo mundo diz que os brasileiros têm, e que o imbecil do Gérson imortalizou há vários anos, numa propaganda de cigarro. Na verdade, imbecil foi o cara que criou a tal propaganda. O Gérson apenas interpretou a patacoada e acabou batizando a “lei da vantagem” com seu nome.

Comprar produtos roubados é uma das coisas mais fáceis que há neste país. Assim como é fácil comprar drogas, documentos e pessoas. Pessoas costumam ser mais caras, sobretudo no sul e sudeste. Quem não pode comprar tem a opção de alugar, sempre há mercado para isso.

O que ainda me espanta (mas não deveria) é a atitude de pessoas aparentemente honestas, e que muitas vezes criticam abertamente a criminalidade e a violência do cotidiano, aderindo a soluções longe da legalidade na primeira oportunidade que aparece.

Fazer o quê? Alguma sugestão?

Baixar os impostos? Reduzir a burocracia? Melhorar a qualidade das polícias? Investir em educação? Fuzilar um monte de políticos bandidos? Ir embora pra Pasárgada?

Idéias do que fazer para reduzir a criminalidade no país há centenas, sérias e absurdas, para todos os gostos.

O que falta mesmo é gente de peito pra colocar em prática.

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