sexta-feira, 4 de abril de 2008

No tempo das cartas

As cartas tinham mais emoção que os e-mails.

Há alguns dias estava comentando com uma velha amiga, com quem troquei correspondência durante alguns anos, que, no tempo que escrevíamos as cartas, parecia haver mais emoção nesse ritual. E era um ritual mesmo, desde o momento de segurar a caneta até o envio da carta no correio. Para quem está lendo estas linhas e não me conhece, tenho “só” trinta e três anos (nasci em outubro de 1974), portanto não estou citando o tempo do trem a vapor.

De poucos anos para cá a tecnologia tem facilitado e dinamizado muitas coisas em nossa vida, sendo a correspondência uma delas. A conversa que motivou este texto mesmo foi através do MSN, pois estamos distantes um do outro mais de dois mil quilômetros!

Quando escrevi a primeira carta para ela, morávamos em cidades vizinhas, distantes uns cinqüenta quilômetros uma da outra. Toda semana a gente se via, porque a família dela ainda morava na mesma cidade que eu. Quando fui para Salvador começamos a trocar e-mails e, depois disso, só nos encontramos pessoalmente duas ou três vezes. A vida de todo mundo está cada dia mais agitada.

Outra coisa que mudou muito com o advento dos e-mails foi o lixo que recebemos na correspondência. Na época pré-internet o máximo que chegava até nossas casas e nas empresas eram as infames malas-diretas com propagandas inofensivas, que bastava rasgar e jogar no lixo, ou guardar por algum tempo, se fosse interessante, e no fim do ano jogar tudo de uma vez só. Atualmente, sobretudo para os “internautas” iniciantes, é questão de pouco tempo até sua caixa postal começar a ficar lotada de “spam” (mensagens não-solicitadas), vinda dos mais diversos remetentes, desde correntes para salvar a vida de bebês com câncer até produtos milagrosos para aumento da potência sexual. Quando comecei a “navegar” na internet, em 1997, recebia, abria e lia de tudo, desde as correntes até as ofertas de ficar rico sem fazer força. Gostava especialmente das maravilhosas apresentações em Power Point, com paisagens ao fundo e trilhas sonoras com clássicos românticos em forma de midi (se não souber o que é midi, procure no Google). Hoje em dia deleto tudo isso e muito mais sem ler, especialmente e-mails que vêm com anexos de apresentações do Power Point.

Para os mais experientes no manuseio da web, há vários programas anti-spam e filtros para barrar ou ao menos reduzir esse lixo eletrônico que teima em chegar até nossos computadores, vindo não se sabe de onde. Mas spam é como vírus, você consegue evitar até uns 95%, mas sempre acaba passando um rato pelo vão do muro.

Para não pensarem que sinto tantas saudades do tempo das cartas, admito que prefiro muito mais digitar minhas mensagens e ter as facilidades de correção e envio dos textos do que nos tempos em que tinha que escrever todas elas à mão, ou à máquina, como fiz durante um bom tempo (sim, jovens leitores, tenho certificado de datilografia e uma Olivetti guardada em casa até hoje).

Quando se acostuma com as facilidades que o computador - aliado à internet - proporciona, é muito difícil abrir mão delas. Meu ponto de resistência é conseguir ainda digitar com os dez dedos, como aprendi na antiga escola de dona Olinda, em Rio Claro. De algumas coisas não se deve abrir mão.

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