segunda-feira, 28 de abril de 2008

Lembranças

Por que é que a gente às vezes se refugia em lembranças do passado? De preferência as boas? A explicação técnica e psicológica não sei direito, mas tenho uma teoria: buscamos bons momentos no passado quando não conseguimos viver momentos tão bons no presente. Pelo menos é o que acontece comigo. Quando me encontro em situações de estresse, solidão, tédio, frustração e outras onde se manifestam sentimentos negativos, imediatamente me vem à mente alguma boa lembrança, geralmente da infância ou adolescência.

Já ouvi especialistas comentarem sobre s “fugas” que o ser humano busca quando não quer ou não consegue resolver algum problema ou superar uma crise. Alguns bebem, outros buscam drogas pesadas, outros praticam esportes alucinadamente, mergulham no trabalho, alguns reagem violentamente e tentam destruir o objeto causador da crise... Me enquadro no grupo dos que se refugiam em boas lembranças. De vez em quando me dou ao luxo de tentar reproduzir bons momentos vividos, geralmente em algum encontro de amigos como um churrasco, aniversário, réveillon etc.

Claro que não dá para reproduzir fielmente o passado. Há um provérbio assim: “quando você atravessa um rio, ao chegar na outra margem, nem você nem o rio são os mesmos”. O que dá para imitar são as sensações de prazer, em minha opinião. Várias vezes consegui resgatar a mesma sensação de bem-estar e alegria sentida em ocasiões do passado, com pessoas totalmente diferentes. Considero isso um dos privilégios da mente humana. Será que algum outro ser vivo consegue executar essas projeções mentais conscientes? Desafio para os cientistas desocupados da Nova Zelândia, como diria Jô Soares. Espero que nenhum psiquiatra leia isto e, se ler, não se manifeste, por favor.

Mudando de assunto e ficando no mesmo, queria comentar sobre as confraternizações, também conhecidas por encontros sociais e outros nomes. Há quem me considere um ser anti-social, mas é mentira. Gosto de estar entre amigos e pessoas agradáveis (agradável para uns nem sempre é para outros, bem entendido), gosto de churrascos mais do que festinhas de aniversário. Gosto especialmente de estar com meia dúzia de amigos em algum barzinho aconchegante, jogando conversa fora e tomando cerveja bem gelada. Talvez me considerem anti-social porque não é sempre que estou motivado para ir a esses encontros. É algo muito pessoal, não gosto de “ser obrigado” a ir onde não quero, mesmo que pareça do ponto de vista de terceiros um evento imperdível. Se você leitor não quiser que eu vá a algum lugar é só dizer algo como: “você tem que ir”, “você não pode faltar”, “prometemos pra fulano que você também iria”. Essa última frase é fatal. Jamais se comprometa com alguém em meu nome. Considero isso uma grande falta de educação, de bom senso e invasão de privacidade. Você não precisa entender porque eu quero ou não quero ir a tal lugar, basta respeitar minha decisão.

Falando em entender, tem coisas que são engraçadas. Um grande amigo tem uma filha pequena que está na fase do “por que”. As mais diversas perguntas sobre os mais diversos assuntos, desde “por que a gente sente fome?” até “por que você vai embora?”. Mas hoje não quero comentar sobre crianças. Queria comentar que há adultos que parecem crianças dessa fase e parecem ter uma necessidade incontrolável de saber o porquê de tudo, mesmo aquilo que não lhes interessa absolutamente. Infelizmente esse tipo de curioso acha que tudo lhe interessa. É o que na minha família chamamos de “sujeito entrão”, ou seja, que não tem “semancol”, que vai chegando e bisbilhotando em tudo, sem perceber que isso incomoda aos que estão em sua volta.

Quando conhecemos alguém assim geralmente relevamos a inconveniência por se tratar de um estranho. O duro é quando o estranho vai se tornando conhecido e acaba querendo aprofundar sua curiosidade sobre nossa casa, nossa vida, nosso círculo de amizades. Criaturas assim não conhecem limites, por mais indiscreta que pareça uma situação. Querem saber detalhes de tudo. Antigamente eu tinha mais paciência com isso, hoje em dia costumo cortar a conversa bem rápido. Mas de vez em quando é divertido criar respostas interessantes para perguntas chatas desses chatos:

- E aí, rapaz, como foi lá com a Dani no motel?

- Foi incrível! No caminho pegamos três amigas dela, um anão que tava dormindo na praça e um vira-lata que passava na rua, fomos todos pro “Love Burns” e fizemos o maior bunda-lelê da história!

- ... (cara de espanto e incredulidade do sujeito). É sério??

- Claro que não, mas você viajou na maionese agora hein! Hahahaha.

Ter paciência com os chatos é uma coisa normal, mas é que eu tenho que manter a minha fama de mau.

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